Pode ser que, em fins de janeiro, o comando Dunga tenha deixado tudo para quando o Carnaval passar. O progresso do cinema português talvez também explique porque a seleção brasileira tenha passado boa parte dos 90 minutos assistindo aos lusos tocarem a bola e escolherem quando iriam atacar. No resto do tempo, estavam comendo pipoca.
O segundo gol da esquadra lusitana, já a um minuto de esgotar o tempo regulamentar, ilustrou bem a apatia canarinha. Quando a bola foi cruzada da direita para o chute surpreendentemente oportunista do zagueiro português Ricardo Carvalho, o volante brasileiro Tinga, que entrara no meio de campo não estava ajeitando o meião, mas olhando para o outro lado do campo, tal qual um navegante a vislubrar o que encontraria no além mar. Quando se virou, já viu a bola centrada e, logo depois, no fundo das redes de Helton - que atua por lá, no Futebol Clube do Porto.
Brasil assiste, Portugal joga
Pouco antes, a seleção brasileira já havia sido castigada por menosprezar quem acabou se tornando o melhor jogador da partida, o atacante português Quaresma, um ainda não tão conhecido jogador de 23 anos, com passagame pelo Barcelona, atualmente no mesmo Porto de Helton. Habilidoso, ele já vinha ganhando quase todas as jogadas da preguiçosa marcação brasileira, quando, aos 35 do segundo tempo - naquela momento em que tudo parecia se encaminhar ao 0 a 0, se livrou da marcação e centrou para um belo chute de Simão Sabrosa. A segunda vitória de Felipão sobre o Brasil em dois jogos estava desenhada.
Até ali, o Brasil chegara a ser melhor no primeiro tempo, enquanto a camisa ainda parecia pesar. Depois, parece que os portugueses viram que, por debaixo dela, não tinha Jorginho na lateral direita nem Bebeto e Romário no ataque... A saída da defesa para o meio campo não era rápida e facilitava o cerco português. Desde o início, vale frisar, algumas das melhores chances do Brasil - como em um chute desperdiçado por Rafael Sóbis na defesa do guarda-metas Ricardo - surgiram de erros de passes dos adversários. Que, elogiavelmente, preferiam sair com a bola dominada a apelar para chutões.
Se a língua do Galvão marcasse, não passava um
Com isso, passado o receio inicial, os portugueses passaram a tocar a bola com tranquilidade e dominar o meio campo. Seu principal ídolo, o ponta-atacante Cristiano Ronaldo era mais marcado pela língua de Galvão Bueno do que pelos volantes do Brasil. Naquela conhecida patriotagem, o narrador tentava desqualificar o adversário. O atacou por ter simulado (sic) um pênalti no jogo de fim de semana de seu time, o Manchester United, pelo campeonato inglês. Só que o pênalti existiu. Depois, falou que todas as torcidas da Inglaterra, à exceção da do time dele, o odiavam. So what?, perguntaria um britânico. Que torcedor rubro-negro, tricolor ou vascaíno não odiava o Garrincha na década de 60?
Enquanto Galvão falava, Cristiano Ronaldo segurava a bola no campo de ataque dos portugueses. Onde eles continuaram mesmo depois de sua saída, aos 17 do segundo tempo, para a entrada do veterano Simão Sabrosa, que acabaria abrindo o marcador, 20 minutos depois. O Brasil subia ao ataque, mas não mostrava aquele gosto de ter a bola nos pés. Faltava aramação no meio campo. Não adianta esperar tanto do Kaká, porque ele não é armador. É meia-atacante, joga em velocidade e raramente inicia a jogada. Por isso, não consegue ser exatamente um ponto de referência do meio de campo, como, para citar um exemplo bem claro, o sérvio Petkovcic foi no Flamengo e no Fluminense.
Ímpeto inicial parece ter se perdido
Com a volta gradativa de uma espinha dorsal formada por jogadores da mal fadada copa de 2006 com outros que já haviam passado sem brilho pela seleção, como Maicon e Gilberto, apagou-se, pelo menos até este momento, aquele ímpeto mostrado por uma rapaziada doida para mostrar seu valor - caso de Daniel Carvalho, que quando jogou, em outros amistsos, jogou muito, mas... Sumiu. Vai entender. Outra preocupante semelhança que a seleção de Dunga vem assumindo com a de Parreira é da hegemonia estrangeira. Tudo bem que os gringos levam os craques cedinho e tal. Mas nem sempre acertam. Tem gente muita boa (ainda) no Brasil e, a cada demora para tentar tomar a bola dos portugueses e partir por contra-ataque, eu lembrava do volante sãopaulino Josué. Nas saídas esquisitas de Helton, no goleiro rubro-negro Bruno. E o vascaíno Morais, será que não merecia mais um chance? Gilberto em 2010 terá 34 anos. Marcelo, ex-fluminense, apeas 22. É preciso estimular a vontade dos jogadores mais jovens, caso contrário a seleção periga a se tornar novamente um poleiro de funcionários públicos.
PS: Em uma coisa a CFBF vem acertando. O Brasil jogou contra a Argentina. Agora, Portugal. É isso aí, chega de golear Nova Zelândia, Haiti, Martinica e Burkina Faso.
terça-feira, fevereiro 06, 2007
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3 comentários:
João,
pior que a língua do Galvão, só as roupas do nosso Dunga, que lembram os piores momentos de Cauby Peixoto.
cocnordo com você sobre a dificuldade na armação. Falta alguém pra pensar melhor o jogo.
abs,
Rafael Roldão
João Pequeno e suas inúmeras pérolas. Difícil escolher a melhor de todas.
a insistência no Gilberto é um daqueles mistérios insondáveis da seleção, tipo o peso do Ronaldo na Copa passada. Só pode ter caso com algum Teixeira, ou um pai-de-santo fortíssimo.
E Rafael Sobis... Eu tenho a teoria de que jogador brasileiro só usa o sobrenome quando precisa, ou seja quando não é o melhor "Fulano" do time...
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